Fayga Ostrower – Hoje chorei de saudade

De família judia, Fayga Perla Krakowski viveu na Alemanha quando mudou-se para a Bélgica e emigrar para o Brasil em 1934. Casou-se em 1941 com o historiador Heinz Ostrower, com quem teve dois filhos, Carl Robert e Anna Leonor (Noni).

Cursou Artes Gráficas na Fundação Getúlio Vargas, em 1947, onde estudou xilogravura com o austríaco Axl Leskoscheck e gravura em metal com Carlos Oswald, entre outros. Em 1955, viajou por um ano para Nova York com uma Bolsa de estudos da Fundação Fullbright.

A obra de Paul Cezanne exerceu grande fascínio, e contribuiu para adotar o estilo abstrato, causando reação dos críticos e colegas.

Realizou diversas exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Seus trabalhos se encontram nos principais museus brasileiros, da Europa e das Américas. Recebeu numerosos prêmios, entre os quais, o Grande Prêmio Nacional de Gravura da Bienal de São Paulo (1957) e o Grande Prêmio Internacional da Bienal de Veneza (1958); nos anos seguintes, o Grande Prêmio nas bienais de Florença, Buenos Aires, México, Venezuela e outros.

Entre os anos de 1954 e 1970, desenvolveu atividades docentes na disciplina de Composição e Análise Crítica no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. No decorrer da década de 1960, lecionou no Spellman College, em Atlanta, EUA; na Slade School da Universidade de Londres, Inglaterra, e, posteriormente, como professora de pós-graduação, em várias universidades brasileiras. Durante estes anos desenvolveu também cursos para operários e centros comunitários, visando a divulgação da arte. Proferiu palestras em inúmeras universidades e instituições culturais no Brasil e no exterior.

Em 1988 – na cidade de Florianópolis SC – fez uma exposição Individual, no Centro Cultural e durante um seminário internacional de arte, tive oportunidade de assistir uma palestra, além de fazer com ela uma oficina de “Estética”. Na ocasião eu era aluna na Faculdade de Belas Artes… Lembro que ao chegar as cadeiras da frente estavam ocupadas e eu fui até lá e sentei no chão em sua frente, onde passei quase 4 horas sem me mexer… absorvendo sua sabedoria e seus conceitos aplicados, mais ainda, sua oinião sobe a arte contemporânea e dos artistas…
Veja no video os assuntos da palestra:

Em 1991 – eu já havia concuido a faculdade e feito especialização, assim, estava diretora da Faculdade de Artes. Recebi um convite da Proprietária da Galeria Modernidade de Novo Hamburgo RS – para receber e almoçar com Fayga, pois ela estaria abrindo sua exposição individual ali… simultaneamente havia também uma indicvidual em Porto Alegre RS, no Espaço Cultural BFB.

Foi mágico e assustador o convite… passei três dias pensando o que falar com tamanha sumidade – Eu tinha paixão por tudo o que ela escrevia e não queria parecer “burra” para ela… Li parte de seus livros, fiz pesquisa… enfim, me sentia totalmente despreparada. Então, pensei em falar pouco e coloquei um vestido claro, pouca maquiagem, nada de perfume, cabelos presos, tudo para ser discreta e elegante para Fayga…

Ao encontrá-la apenas nos cumprimentamos normalmente e com afeto e fomos à um reservado em um restaurante. Ela estava com seu cabelo preso e penteado para trás, como sempre usou, com um vestido em uma estampa suave e tons de bordô…
Os assuntos leves e em um determinado momento ela disse:
– Eu estava anciosa por conhecer uma pessoa de administrativo, diretoras de faculdades, normalmente possuem uma linguagem “pedagogês” e são pessoas caladas e você é uma criatura deliciosa…

Neste momento, contei à ela que estive em sua palestra em SC, fiz sua oficina e ela lembrou que eu estava sentada no chão… E falei toda minha angustia e preparação em encontrá-la, tudo isso e ainda tirei dois de seus livros que eu tinha em uma bolsa para ela autografar… Livros que usei muito sublinhei, etc… ela amou meus livros “bem lidos” colmo ela disse e demos muitas e boas risadas…

Ao nos despedirmos, no meio da tarde ela me intimou para estar na abertura da exposição à noite e eu afirmei que certamente estaria lá, além do que, iria também na abertura em Porto Alegre no dia seguinte.
Então eu disse: Fayga, a única coisa que eu não gostei em você, foi que você “matou Daly” na oficina em Florianópolis…. Era minha maior paixão e, saber como foi sua vida de artista o tornou “nada” em minha admiração. Ela disse – Sinto tanto, mas melhor sofrer acordada do que apenas dormir…

Estive com ela nas duas noites de exposição e nunca mais à vi, embora tenha acompanhado sua trajetória, recebido uma correspondência sua e tivemos ainda um contato telefônico.
Olhando seu livro em minha prateleira hoje, chorei… Chorei pela perda!